Sabe-se que Clarice Lispector hoje é conhecida como ótima cronista, escritora esplêndida que era. O gênero crônica ela passou a praticar em 1967.

Um ano depois, era 4 de fevereiro, ela escrevia uma crônica sobre o encontro que teve com Chico Buarque. Um amigo em comum os apresentou em um restaurante.

O cantor, que estava ainda em seu terceiro disco, disse logo: “e eu que estive lendo você ontem!” Para se gabar com seus filhos, que eram fãs de Chico, ela pensou em chamá-lo para uma visita em sua casa.

“Convidei porque, além de ser altamente gostável, você tem a coisa mais preciosa que existe: candura”, escreve ela em outra crônica do dia 10 do mesmo mês.

Esse encontro entre duas grandes personalidades parece ter um quê de desejo. Não no sentido romanceado do termo mas no de ausência de algo. Clarice mesma explica: “E eu, apesar de não parecer, tenho candura dentro de mim. Escondo-a porque ela foi ferida”.

E era incrível como ela sentia certa alegria pelo menino Chico, que lhe proporcionou, de certa forma, uma situação curiosa.

Na crônica de 23 de março daquele ano, ela volta ao cantor. Relata que recebera uma carta que interessaria a ambas as personalidades. Era de uma fã que informava ter “uma inclinação enorme por ele”. Mas não era apenas isso. A remetente foi além, confessando a Clarice o desejo de um encontro a três: “Pois se eu e você nos sentimos inclinadas por ele, e eu e ele por você, talvez dê certo.”

Clarice simplesmente elogia a candura inventiva da “minha amiguinha”. Mas para dar um gostinho para sua confidente, só lhe resta contar um pequeno segredo. Clarice continua:

“Numa quarta-feira, às 11 e 30 da noite, dei um beijo hippy em cada face de Chico Buarque, nas dimensões de 7 x 4 centímetros, com batom cor de carmim. Trata-se de uma explicação para meu amigo Xiko Buark dar em casa.”

Clarice não percebia mas ela tinha toda a verdadeira candura do mundo.

Por @sergiano.silva

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