O ano é 1970, mais precisamente fevereiro. Maio de 68 já era um horizonte histórico no passado. Mas ele deixou ruínas de sua tempestade.

Hannah Arendt havia escrito um ensaio sobre a violência entre os anos de 1968 e 1969, no qual ela discute as relações semânticas entre o poder, a autoridade e a violência.

Nessa altura, ela já havia escrito obras clássicas, como Homens em Tempos Sombrios e Origens do Totalitarismo, além de Entre o Passado e o Futuro.

Até que, em 21 fevereiro de 1970, um jovem de 28 anos decide entrar em contato com a filósofa.

Ele escreve então uma pequena carta na qual explica como conseguiu seu endereço. E confessa, com a timidez de um iniciante, que os livros da destinatária representaram uma “experiência decisiva” para ele.

“Permita-me expressar aqui”, continua ele na carta, “minha gratidão a você, e àqueles que, junto a mim, na lacuna entre o passado e o futuro, sentem a urgência de trabalhar na direção apontada por você”.

Essas palavras foram escritas pelo, hoje famoso, filósofo Giorgio Agamben.

Mas a timidez nunca encolhe o orgulho. Pois, num pós-escrito à carta, ele diz enviar um ensaio sobre a violência “que não teria sido escrito sem o guia dos seus livros”.

Seria o começo de uma boa troca intelectual.

Porém, seis dias depois, muito agradecida, Arendt responde à carta dizendo: “Gentil de sua parte enviar-me seu artigo, mas temo que irá tomar muito tempo para eu ler porque meu italiano não é apenas péssimo, mas quase inexistente”.

Agamben esquecera ou não sabia que Arendt não lia em italiano.

Por @sergiano.silva

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