Em 2020 temos nos infectologistas e nas pesquisas epidemiológicas as melhores esperanças no que tange a superação dos graves desafios clínicos e psicossociais criados e/ou agravados pela pandemia. Mas nem sempre foi assim. E o motivo é simples, houve um tempo nestas terras em que nem cientista e nem médico se tinha. As pesquisas sobre as doenças e a medicina durante os séculos XVI e XVII no Brasil Colonial nos mostram que praticamente não haviam médicos formados atuantes nas terras da América Portuguesa – a grande maioria eram “médicos práticos” (cirurgiões, barbeiros e parteiras).


Diferentemente da América Espanhola – que no México já se tinha universidade estudando Medicina desde 1580 –, no Brasil somente em 1648, o flamengo Guilherme Piso, naturalista e médico, escreve seu “De medicina brasiliense”. Piso realizou os primeiros registros das doenças tropicais, estudo das terapias indígenas e exames dos efeitos dos remédios nativos. Posteriormente, surgiram em língua portuguesa estudos sobre outros males que afligiam os habitantes da colônia, como sobre a febra amarela em 1694, com João Ferreira da Rosa, em “Tratado único sobre a pestilencial de Pernambuco”.

Como, pois, se tratavam os doentes na Colônia? Com auxílio das práticas e das tradições indígenas. Sejam por acidentes como mordeduras de cobras venenosas, sejam por doenças como o sarampo, a varíola, a tuberculose ou outras doenças venéreas, os portugueses aprenderam que era preciso assimilar as substâncias tropicais e os conhecimentos ameríndios como parte dos tratamentos. Até porque os remédios vindos de Portugal poderiam ter suas propriedades alteradas após meses de viagem transatlântica. Ou seja, era uma questão de sobrevivência aprender com as tradições nativas, sobre como melhor utilizar os saberes e os produtos locais.

“Assim, por exemplo, as raízes do jeticuçú, usadas como purga. [...] O óleo de copaíba era sensacional para curar feridas, emplastros de raiz de mandioca curavam ‘postemas’ [infecções], o carimã, também extraído do tubérculo, era usado contra picadas de cobras ou para matar lombrigas. [...] E o ‘petume’, ou erva-santa, fechava bicheiras, matando-lhes todos os vermes”. (PRIORE)

Texto de @robsoneolivro

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