Nesta última segunda-feira, 23 de novembro, o poeta romeno Paul Celan estaria completando cem anos.

Celan nasceu na cidade de Cernăuți, região de Bucovina, onde predominava uma comunidade judaica de cultura alemã, resquícios do caldeirão cultural do antigo Império Austro-Húngaro.

Em 1940, em meio à Segunda Guerra, os soviéticos ocupam a região, mas isso não afetou os estudos do jovem poeta, apesar das deportações.

Em 1941, tropas nazistas e fascistas romenas tomam a cidade. A sinagoga é incendiada, os judeus são colocados em guetos. No ano seguinte, enquanto estava fora de casa, os pais de Celan são transportados para um campo de internação, onde morreriam.

Celan será mantido em um campo de trabalho de Tăbărăşti, onde será libertado quando da chegada do Exército Vermelho em 1944.

A dor da sensação de ter abandonado os pais, além da culpa por ter sobrevivido à Shoah, formam um peso enorme que se torna mensurável nas suas poesias, escritas em alemão.

Adorno disse que fazer poesia após Auschwitz seria a barbárie. Celan, que não gostava do filósofo, provou que isso seria possível, ainda mais como testemunho das atrocidades nazistas.

Seu poema mais famoso, Todesfuge (Fuga da morte), é hoje lido nas escolas alemãs e é considerado o “poema de Auschwitz”, apesar de o poeta não ter estado neste campo de extermínio. O poema traz metáforas sobre sua condição no campo de trabalho.

“Cavamos uma cova nos ares, onde nada é estreito”, a imagem constante no poema, que tem a entonação musical das ordens, das quais ressalta o “homem que mora na casa e brinca com serpentes”. As ordens constantes são para cavar, enquanto o sujeito saca a arma. “Vocês subirão como fumaça aos céus”, grita, porque “A morte é mestra que veio Alemanha”.

Depois da guerra, Celan se instalou em Paris. Na década de 1950, chega a ter contatos com Heidegger. A partir de 1960, suas crises psicológicas se aprofundam, sendo internado algumas vezes.

Em abril de 1970, provavelmente dia 20, ele vai à ponte Mirabeau, em Paris, e se joga no rio Sena, vindo a falecer.

Por @sergiano.silva

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